Saquei um dia, olhando pro alto. E pra dentro. Uma sacada: era o que me faltava para ser feliz.
No meu apartamento não tem sacada(s), ele gira-sala-banheiro-corredor-cozinha-cachorro no caminho-corredor-quartos-banheiro-sala. A volta termina meio quadrada, naquela arquitetura que deve ter uns 40 anos - época em que montar numa lembreta era um puta trip, broto.
O fato é que saquei que é bem mais fácil se ter grandes sacadas quando se tem uma sacada, saca?
Por isso que os filmes europeus têm todo aquele ar de intelectualidade descomprometida, natural, só um suspiro entre a pornografia soft e a mais conceituada reflexão existencialista. Nesses filmes, corta a cena, tá lá: a sacada. É lá que os personagens fumam, geralmente com cara de pós-coito mal resolvido ou picolé-de-chuchu, olhando para o nada, enquanto narram o futuro num insight super bem fotografado.
A sacada é também o caminho mais curto para o suicídio nos filmes de terror e drama japonês. Bem mais prático do que ter que subir até o terraço, cortar os pulsos, ter convulsões com um especial de Pokemon, coisas do tipo. E sabe como japoneses são propensos a essas coisas curtas e práticas...tipo os celulares, pô
Mas eu não, na minha casa não. Qualquer dia desses a senhora do apartamento ao lado manda fazer uma sacada, só pra colocar uns vasinhos, chamar umas senhoras miguxas para jogar dominó, ficar com frio e ir pra dentro da sala. E depois nunca mais ir lá.
E eu que preciso de uma sacada urgentemente, nada. Eu que preciso colocar um banquinho lá e esperar. Eu sei que a chuva vai surgir lá da esquina, vindo na minha direção, me fitando e desafiando. E eu vou continuar na sacada, no banquinho, fechar os olhos quando as primeiras gotas baterem na minha testa, e continuar.
Eu preciso de uma sacada para não poder fechar as janelas para a chuva, nem para o mundo.Eu preciso sacar as coisas da vida de novo, e rápido. Depois da chuva, quem sabe, eu fume um cigarro molhado e apagado e tenha um super insight em francês. Com legendas.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
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