sábado, 13 de março de 2010

Só um minuto de conversa. E são tantos.

- Que tolerar não é tão ruim assim...

Com esses parcos vinte e dois,
tentando sabe lá por que diabos argumentar,
acho que dirias:

- São nove a mais de motivos para falar de perdão,
quem sabe a tua fala é falta,
da vida que ainda não te deu uma boa razão.

E rasgaria eu o bom senso com a pretensão:

- Quem sabe o acaso agora não te deu a outra mão,
na esperança desmedida na rota do meio,
nos tantos anos que não tenho,
entre teus extremos, o vão.

Vai que essa nossa passagem, a pé,
não é para dizer,
que tua viagem cá não vai acabar tão cedo?
dizer que desculpar não é remendo.

E rotineiramente reacionária, de volta,
às voltas com essa descabida conclusão,
igualmente descaberia:

- Quem sabe vim pra te dizer que saudade não é desespero,
Quando se espera com uma paz que há tanto em ti não havia
essa noite que nem sempre acaba no dia.
Essa fé que em ti não brota,
Mas que te abriga,
por mim.

E ao fim de mais um minuto,
sabe lá, se admitir um ao outro seria absurdo,
se essa minha e tua mudança de rumo,
seria insegura, para cada tapa que apenas, cada rosto,
sabe o peso que teve.

E sem mudar do nosso já moldado lugar, mudos,
talvez o silêncio, por nós, se encarregaria de finalizar:

- Que música, afinal, também é feita de pausa,
e essa melodia que parece torta e quebrada,
sabe lá quantas linhas e páginas perdidas,
ainda tem para desmontar,
antes de acabar.

terça-feira, 2 de março de 2010

Sobre todas as coisas casuais, o que fica

“Caso aconteça, puxe a cordinha e será ejetado da Terra por um breve ciclo solar. Aproveite a falta de programações culturais no espaço para refletir sobre o acontecido”. Acho que ainda não inventaram nenhuma bugiganga do gênero, nem mesmo os japoneses que adoram se distrair com esses feitos tecnológicos para compensar a falta de liberdade sexual.

Chamariam de...Sistema de Prevenção à Casualidade que Aparentemente Veio Para Ficar. Ou então contratariam um profissional de marketing para resumir a idéia em um super nome impactante em inglês, como Destiny puncher.

Realmente não sei por que ainda não criaram tal aparato, já que esse tipo de casualidade é o que gera alguns dos principais problemas existenciais da humanidade, principalmente nos dias de hoje, em que as pessoas não podem se dar ao luxo de perder o controle da conta, do volante ou da rotina.

E acho que já aconteceu com todo mundo, esse tipo específico de casualidade. E acho que se acontecesse com todo mundo ao mesmo tempo, o mundo pararia completamente por uns três minutos, enquanto homens e mulheres, patrões e empregados, corintianos e palmeirenses, olhariam para o nada com aquele ar abobalhado por simplesmente não entender como aquela conversa, apresentação ou esbarro casual desembocou nesse estado catatônico e com trilha sonora de fundo.

Porque se todas as pessoas notassem, ao mesmo tempo, que encontraram alguém que as faz querer fugir desse epicentro de loucura que é a vida contemporânea...

notassem que seriam capazes de chegar atrasados no trabalho em plena segunda, terça ou mesmo quarta-feira, por ter ficado acordado conversando banalidades, essencialidades ou até crítica cinematográfica (gênero do discurso humano que prefiro não encaixar em nenhuma alegoria, com medo de represálias)...

notassem que há algo naquele encontro casual, naquela pessoa daquele encontro casual, que faz a mera casualidade querer se assanhar para o lado do dia-a-dia, dos pensamentos que insistem em ir e voltar depois mais fortes.

Com tantas coisas nesse mundo, tanta informação e gente e olhares e palavras e pesares que são descartados diariamente, aquelas casualidades que não se vão, assustam, é fato. Mas nem sempre é fardo, o que talvez seja até pior.

E caso isso aconteça, puxe a cordinha. Antes de não ter mais forças para tirar os braços enlaçados da vida daquela pessoa.

P.S: Porque cansei de ser apenas exposto pelas Letras, sem um pouco de contra exposição reacionária e inspirada.

E o chip levou...

Um dia desses ouvi uma declaração de uma pessoa muito ligada à área de bibliotecas e da leitura. “Os livros não vão acabar. Todos os outros suportes são mais falíveis. Tecnologias mudam de ano em ano. O livro dura centenas de anos”. Escorreu uma lágrima e tive vontade de sair abraçando cada amontoado de celulose que visse pela frente. Mas contive o impulso e pensei que era papo parcial e apaixonado de quem – mostrando obscenamente o acúmulo dos anos com uma falta de acúmulo de cabelos - não conseguiria nunca se adaptar a um e-book.

As novas tecnologias estão aí, afinal. Trilhões de informações assim, antes do macarrão instantâneo ficar pronto. Amigos que foram pra longe bisbilhotam a vida dos amigos que ficaram, e eventualmente lembram por que foram pra longe.

Tantas outras coisas - que fariam com que a vovó risse e batesse com o pé direito no chão, mastigando alguma coisa com o lado direito da boca, e diria “Mas nem a pau!” - características desse belo mundo pós-moderno.

E não pode ficar de fora dessa lista um dos apetrechos mais populares da atualidade, as mensagens de texto do celular. Torpedos, SMS, mensagem, como quiser, e nem que não queira. Essa ferramenta que é, por exemplo, a salvação pra quem lembrou do aniversário de um camarada não tão próximo assim pra se telefonar, mas que provavelmente o destino jogará na sua frente em uma situação irremediável – como em um restaurante a duas mesas de você, uma fila única de um caixa de banco ou uma orgia com as luzes acesas.

É também um grande auxílio para os enamorados de hoje em dia, como não? Antes de dormir, você lembra da pequena, põe uma daquelas piores músicas do Elton John ou qualquer uma do Bon Jovi e escreve a coisa mais cafona que a sintaxe da sua língua natal poderia permitir, mesmo totalmente contrariada.
Alguns relacionamentos têm sua linha histórica escrita na linha histórica da caixa de entrada dos celulares dos pombinhos:

-As fases preliminares, “engraçado, pensei em você, to escrevendo só pra dizer boa noite”. O grande dia, “hoje, 21h, vamos ver aquele filme suuuuper legal que tem um cara que queria muito uma coisa e aparece um outro cara que não deixa ele ter uma coisa e tem aquele menina que odeio o cara, mas no final depois de escapar de um avião em chamas eles ficam juntos? Sucesso de crítica”.

-Os meses seguintes, “Acho melhor amanhã, hoje to um pouco ocupado vendo as partes do teto do meu quarto que precisam de um retoque de tinta”.

-O grande último dia, “Às 19h, no parque, preciso conversar SÉRIO com vc, tipo assim, sério meeesmo...vá sozinho, não leve os tiras”.

Fora as primeiras declarações bobas ou o texto daquela vez que você passou 37 horas junto com a pessoa como reféns num assalto de banco, e quando você chegou em casa teve uma estranha sensação e escreveu: “Já estou com saudades”.

As mensagens monossilábicas que vêm depois das brigas: “Ok, entendi”, “Sim, divirta-se” e “Raiva? Eu?”.

Todas essas historietas que você pode rever nos dias saudosos de chuva, acompanhado de um copo de leite e uns cristais para canalizar toda carga energética decorrente das milhares de mensagens que seu celular comporta. Até que num dia igualmente saudoso e chuvoso, ele se vai, como aquele relacionamento que acabou numa tarde de terça-feira, após uma excelente segunda.

Vai por mim, um dia se vai...o chip, ou o celular todo no caso dos usuários mais cuidadosos. Pode ser roubo, uma queda besta, uma queda nada besta, uma brincadeira de amigos não muito conscientes mais uma piscina mais você de roupa que é a igual a o que nunca se sabe.

Dois anos, talvez três, de brigas e primeiros dias, te odeio, te amo, feliz aniversário, saudade, saudade, saudade, cinema amanhã, parque amanhã, uma conversa despretensiosa e cheia de hormônios, uma conversa séria, uma conversa séria meeeesmo, adeus,

. juro que escreverei mais cartas, de papel, daqui para frente. Boa noite.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Encontro

Ooooi! Olha só, você por aqui a essa hora. Nessa rua, com esse vestido florido, provavelmente voltando daquele espetáculo no teatro. Aquele espetáculo de pessoas bem floridas e você naturalmente mais que todas elas. E, nossa, é tão bom te ver, rever, você sabia disso não? E sabia que também não poderia ter sido assim, que eu deveria ter atravessado a rua quando avistei de longe toda essa aura florida tamanha essa hora, tamanha essa rua. Eu te ver, tudo bem, mas você me ver.

Ver esse eu que afinal, não sou eu, eu, assim. Não o eu mais sociável que tenho. Um eu que parece ter voltado de uma corrida lá na Doca e de uma queda em uma corrida lá na Doca. Um eu que levou uma baforada de vento no rosto e no cabelo, após ter ficado bem atrás de um trio de homens gordos que fumavam e gargalhavam. Tanto suor e tanto cheiro enjoativo de fumaça e boemia mal acabada não são necessariamente eu.

É apenas um eu, um. Se passares lá no meu trabalho às 8h30, 8h40 de uma terça ou quarta e lá sim, estarei um eu muito mais sociável, socioaceitável, sentado na minha cadeira, envolto pelo ar frio da central, pela falta de ação da rotina. Mas, até lá, por que não esquecemos que você me viu?? Simplesmente esqueça, esse segundo encontro casual, pra que lembrar ou remoer essa imagem? É tão melhor.

Você esquecer que me viu e não perguntar se a recíproca será verdadeira. Porque provavelmente eu irei ser quase atropelado no mínimo três vezes até chegar em casa, olhando pro alto como se isso fizesse algum sentido ou efeito. Provavelmente você irá aparecer no meu sonho às 6h30, e eu irei acordar às 6h35, logo quando o navio iria zarpar pra Nova Zelândia, o nosso navio. E provavelmente eu sentarei na mesa de café da manhã com o ar abobalhado e encherei a xícara de café - apesar de ter parado de tomar café – para então me queimar pra valer com o café quente e pensar em como você estaria tão longe dormindo serena com esse seu rosto de “tudo bem, tudo bem”.

Pensar que você acordaria com esse mesmo rosto e cabelos cacheados do dia que conheci você às 10h com um puta sol de 10h e você numa espécie de golpe marcial-comportamental fazia o mínimo de vento que existia em um raio de 5 km bater bem no lado do seu cabelo, os cachos tremulavam e alguns poucos raios de sol revelavam seu rosto, sem excesso. Sem excesso.

Esqueça então, por favor, que por aqui está cada vez mais difícil de esquecer.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Um outro alguém, quem sabe

Um pouco além, quem sabe,
é o necessário para alçar,
voo e volta que preciso, ou imprecisa pode até ser,

Ter porto de descanso, porta pra cura desse acanho,
... um outro alguém...quem sabe, saberia tão simples tanto fazer?

Se não eu que sinto, vivo e me aturo?,
na felicidade, na certeza e no inseguro
nos dias-que-dias de documentos e atenção,
olha o sinal,!, olha a mão,!, a direção,!
o futuro,..., furta o presente,
olha tudo e fica pra ti, não larga, não perde,
a vida é tanta e tanto queres,
e quanto precisas, ?, já nem sei,
um outro alguém,...quem sabe...,
Saberá dizer...

E o certo é o aguardo, a maré?,
ou com um tanto de fé e ilusão correr até chegar,
cair, limpar terra do rosto, levantar, pulsar.....(...).....ou será levitar,
leve ser e se esconder em si,
até o acaso escolher qual maré.

Um outro alguém, quem será....? sabe lá...
aqui, saberá mostrar......

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Na mochila

Na mochila levei três camisas - uma pra 10h de sol, outra para os 30 minutos de banho de chuva, outra pra 8h de sono - três bermudas, três cuecas, uma sunga, uma toalha, três pacotes de miojo e mantimentos de higiene pessoal e bom convívio social. A mala ficou cheia, como se fosse para não voltar tão cedo. Com uma das alças solta, tive que segurar a mochila com as mãos para que ela não caísse para um lado. Imagino que fiquei com um ar de menino-moço que carrega firmemente sua vida estudantil atrás das costas e cantarola mentalmente uma canção qualquer e pensa no seu amor platônico de 2 anos.

Na mochila, levei tudo amontado e dobrado em três compartimentos. dois ficaram vazios. Sem o toque de mãe, que conseguiria distribuir tudo aquilo em metade do espaço e ainda colocaria mais três toalhas, duas camisas, dois pacotes de bolacha e um protetor solar para eu não usar, mas me sentir preparado para as bombações do verão.

Na mochila não levei mutas cores, porque as camisas bermudas cuecas sungas são no geral sóbrias, cinzas, pretas. Não levei passaporte porque não tenho coragem para seguir suas possibilidades. Não levei bússola porque minhas andanças sempre seguem os passos de outros tantos e isso me deixa um tanto frustrado. Não levei o abraço de despedida de pai e mãe porque eles não estavam lá para arrumar a minha mochila. Não levei uma foto daquela moça, porque não tenho. Não levei a saudade dela, porque teria que tirar todas as roupas, acessórios e comidas, comprar outra mochila e pegar um saco de plástico para caber tudo.

Na mochila levei, além de tudo, os sonhos de uma vida aventureira que nunca tive. Só tenho a mochila. Ela me faz andar com um semblante de dor nas costas e cansaço resignado, típico das pessoas que rodam as esquinas do mundo sem querer passar duas vezes pelo mesmo ponto.

A mochila é o que tenho de uma geração que não vivi, de um país que não conheci, de ideiais que sempre compartilhei por coincidência. E quem sabe ande ande ande até encontrar o que eles encontraram depois de tanto andar. E se ainda tiver forças, quem sabe ande ande ande mais para encontrar o que eles não encontraram depois de parar.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Procura-se uma sacada

Saquei um dia, olhando pro alto. E pra dentro. Uma sacada: era o que me faltava para ser feliz.

No meu apartamento não tem sacada(s), ele gira-sala-banheiro-corredor-cozinha-cachorro no caminho-corredor-quartos-banheiro-sala. A volta termina meio quadrada, naquela arquitetura que deve ter uns 40 anos - época em que montar numa lembreta era um puta trip, broto.

O fato é que saquei que é bem mais fácil se ter grandes sacadas quando se tem uma sacada, saca?

Por isso que os filmes europeus têm todo aquele ar de intelectualidade descomprometida, natural, só um suspiro entre a pornografia soft e a mais conceituada reflexão existencialista. Nesses filmes, corta a cena, tá lá: a sacada. É lá que os personagens fumam, geralmente com cara de pós-coito mal resolvido ou picolé-de-chuchu, olhando para o nada, enquanto narram o futuro num insight super bem fotografado.

A sacada é também o caminho mais curto para o suicídio nos filmes de terror e drama japonês. Bem mais prático do que ter que subir até o terraço, cortar os pulsos, ter convulsões com um especial de Pokemon, coisas do tipo. E sabe como japoneses são propensos a essas coisas curtas e práticas...tipo os celulares, pô

Mas eu não, na minha casa não. Qualquer dia desses a senhora do apartamento ao lado manda fazer uma sacada, só pra colocar uns vasinhos, chamar umas senhoras miguxas para jogar dominó, ficar com frio e ir pra dentro da sala. E depois nunca mais ir lá.

E eu que preciso de uma sacada urgentemente, nada. Eu que preciso colocar um banquinho lá e esperar. Eu sei que a chuva vai surgir lá da esquina, vindo na minha direção, me fitando e desafiando. E eu vou continuar na sacada, no banquinho, fechar os olhos quando as primeiras gotas baterem na minha testa, e continuar.

Eu preciso de uma sacada para não poder fechar as janelas para a chuva, nem para o mundo.Eu preciso sacar as coisas da vida de novo, e rápido. Depois da chuva, quem sabe, eu fume um cigarro molhado e apagado e tenha um super insight em francês. Com legendas.